Brincadeiras de origem africana
O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, fazendo-o tão somente no final do século XIX. Hoje, mais da metade da população brasileira se autodeclara negra, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE divulgados pela agência Lupa[1], e essa enorme carga histórica negativa trazida por ter uma população sequestrada de suas terras e escravizada é algo que se precisa lidar para combater o racismo.
Com a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira trazido pela Lei 10.639/03, essa discussão ganhou espaço, e uma das maneiras de valorizar essa identidade e cultura pode se dar por meio de jogos e brincadeiras. Confira no umCOMO sugestões de brincadeiras de origem africana.
Brincadeiras de origem africana
Qual a melhor forma de valorizar uma cultura e passá-la adiante aos pequenos, senão brincando? Vamos aos nossos jogos de origem africana!
1. Terra-Mar
Nossa primeira brincadeira de origem africana é moçambicana e chama-se "Terra-Mar". Sua execução é relativamente simples, mas exige concentração e atenção:
- Traça-se uma linha no chão, separando a "terra" do "mar";
- Ao começar o jogo, todas as crianças devem estar na "terra";
- Quando a criança que estiver "cantando" o jogo falar "mar", todos devem pular para esse lado, e a mesma coisa quando falar "terra";
- Os participantes vão sendo eliminados a medida que pulam na hora errada, para o lado errado ou fazem menção de pular quando não é a hora;
- O último vence!
Se você gostou desse jogo, confira outras sugestões de brincadeiras ao ar livre simples.
2. Banyoka
Originária da Zâmbia, a brincadeira "banyoka" é um dos jogos de origem africana mais divertidos. Confira:
- Separe as crianças em dois ou três grupos, em duplas ou trios;
- Estabeleça uma linha de saída e uma de chegada;
- Cada grupo deve se sentar no chão e colocar as mãos nos ombros da criança da frente, formando uma "cobra";
- Cada "cobra" deve se movimentar até a linha de chegada sem se soltar. Vence quem chegar primeiro!
Um aspecto interessante do jogo, segundo Débora A. da Cunha, autora de Brincadeiras africanas para a educação cultural é que este jogo expressa uma herança lúdica ligada ao mundo rural e os animais que fascinam as comunidades. A cobra indica perigo, mas também destreza e agilidade, qualidades valorizadas por essas sociedades.
3. Pilolo
Muito parecida com a nossa caça ao tesouro é o jogo "pilolo", originário de Gana. Veja como jogá-lo:
- Em grupo, escolhe-se uma pessoa para esconder objetos de tamanho pequeno (moedas, canetas, tampas de garrafa, etc). Também deve-se estabelecer um marco como ponto de chegada;
- Enquanto o escolhido esconde os objetos, os outros jogadores devem permanecer virados para trás, sem ver o que se passa;
- Quando o escolhido gritar "pilolo", os jogadores devem começar a procurar os objetos e, quando os achar, ir até o ponto de chegada.
Curiosidade: a palavra pilolo significa "procurar".
4. Acompanhe meus pés
Do Zaire, a brincadeira de origem africana "acompanhe meus pés" trabalha a memória e a consciência corporal. Observe:
- As crianças formam uma roda e escolhem um líder;
- O líder deve cantar alguma música e bater palmas;
- Quando o líder parar na frente de alguma das crianças, deve fazer uma dança;
- Se o jogador conseguir refazer os movimentos da dança, se torna o líder, caso contrário, o líder deverá tentar novamente com outra criança.
5. Trecho
Com origem na África do Sul, a brincadeira "trecho" necessita de três cordas ou três cabos de vassoura. Veja como jogar:
- Seis crianças devem segurar as cordas/cabos em cada ponta;
- Enquanto isso, uma criança deve pular as cordas/cabos — que estão em movimento!
- O jogador deve esperar que a corda/cabo da frente se abaixe para poder pular.
6. Preso na lama
Similar ao pique estátua, esta brincadeira de origem africana chamada "preso na lama" é um divertido jogo da África do Sul:
- Delimita-se um espaço onde será a "lama" e o jogador que será o caçador;
- Com o sinal de "já!", as crianças saem correndo para longe do caçador;
- A criança tocada pelo caçador fica "presa na lama" e deve se manter imóvel, podendo ser salva se for tocada por outro jogador. Mas atenção: após duas capturas, está fora do jogo;
- Vence quem ficar por último!
7. Conduzir aros
Com origem em Uganda, a brincadeira "conduzir aros" apresenta obstáculos. Confira:
- Deve-se preparar uma pista que dificulte conduzir os aros, com pedras, material escorregadio, enfim, o que as crianças acharem melhor;
- Com pneus ou bambolês, cada competidor deve ultrapassar a pista sem deixar o aro cair.
Sugere-se que após as brincadeiras, o professor ou responsável fale um pouco sobre a história do jogo, sobre o país de origem e seu contexto social e político. Em brincadeiras da África do Sul, por exemplo, é possível abordar a questão do apartheid ou quem foi Nelson Mandela após uma atividade lúdica e que, momentaneamente, criou vínculos entre o grupo de crianças e aquele país. É uma ótima forma de trabalhar a História da África na escola!
Se você gostou dos nossas brincadeiras típicas da África e vai, por exemplo, aplicá-las na educação infantil, confira também o nosso artigo sobre brincadeiras de origem indígena.
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- AFONSO, Nathália. Dia da Consciência Negra: números expõem desigualdade racial no Brasil. Agência Lupa. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-numeros-brasil/>. Publicado em 20 de novembro de 2019. Acesso em 27 de outubro de 2021.
- DA CUNHA, Débora Alfaia. Brincadeiras africanas para a educação cultural. Castanhal, PA: Edição do autor, 2016.